segunda-feira, 7 de março de 2011

São dias assim.



São dias assim, invadidos por um brutal sentimento de Saudade... não me ocorre outro sentimento tão "corrosivo" quanto este.

De corrosão complexa, de longa duração, muito boa e viciante, faz-nos uma ligação directa entre o cérebro e o coração, e dos dois a um campo de espaço e de tempo quase infinito... se assim não fosse, nada mais seríamos do que corpos, máquinas, ou pedras.

Tudo isto a propósito "daqueles" dias (como hoje), em que com bastante carinho e ao fazer um "rewind" à minha memória, dou comigo com menos vinte anos, num dia de Verão, num dos muitos das férias grandes, em calção e t-shirt (daqueles que já nessa altura teimava em vestir apenas nesses dias, para estar mais confortável), ansiosamente à espera da hora de correr para a praia que ficava mesmo ali ao lado... e enquanto isso, brincava no quintal com os amigos, brincávamos aos carros, não dos pequeninos mas daqueles em que como "gente grande" conduzíamos mesmo (era o que dizíamos com um ar muito sério quando alguém nos perguntava o que andávamos a fazer), e em que um simples pedaço de madeira que íamos tirar à oficina do vizinho, servia de volante...

Dias em que corríamos para ir brincar para a casa da árvore, num terreno pequenino que apesar de ter dono, nós tratávamos como se fosse nosso, onde o cão que lá estava era o nosso guardião, e onde inventávamos os nossos clubes e os nossos circos, que entretiam por vezes os nossos pais que com bastante paciência lá íam participar das nossas aventuras, e que até compravam as pipocas e um copinho de sumo na nossa banca (que levávamos de casa)... para "ajudar a causa", hehehe.

Dias em que onde hoje passa um carro por minuto, antes passava um carro por dia, que hoje é de asfalto e antes era de terra batida com ervas na berma, onde hoje existe um estacionamento, e antes existiam duas pedras a fazer de baliza, com alguém no meio a fazer de guarda-redes que aguardava o remate de quem vinha a correr por entre os outros que andavam nas bicicletas que tinham recebido no Natal anterior.

E tantos outros dias...

São dias como esse, que nos fazem sonhar acordados, de algo passado que nada teve de irreal, cujo papel principal é abrir a janela do quarto nos presentes dias em que o Sol, por vezes teima em não entrar.

É tão bom recordar.

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