São dias assim, invadidos por um brutal sentimento de Saudade... não me ocorre outro sentimento tão "corrosivo" quanto este.
De corrosão complexa, de longa duração, muito boa e viciante, faz-nos uma ligação directa entre o cérebro e o coração, e dos dois a um campo de espaço e de tempo quase infinito... se assim não fosse, nada mais seríamos do que corpos, máquinas, ou pedras.
Tudo isto a propósito "daqueles" dias (como hoje), em que com bastante carinho e ao fazer um "rewind" à minha memória, dou comigo com menos vinte anos, num dia de Verão, num dos muitos das férias grandes, em calção e t-shirt (daqueles que já nessa altura teimava em vestir apenas nesses dias, para estar mais confortável), ansiosamente à espera da hora de correr para a praia que ficava mesmo ali ao lado... e enquanto isso, brincava no quintal com os amigos, brincávamos aos carros, não dos pequeninos mas daqueles em que como "gente grande" conduzíamos mesmo (era o que dizíamos com um ar muito sério quando alguém nos perguntava o que andávamos a fazer), e em que um simples pedaço de madeira que íamos tirar à oficina do vizinho, servia de volante...
Dias em que corríamos para ir brincar para a casa da árvore, num terreno pequenino que apesar de ter dono, nós tratávamos como se fosse nosso, onde o cão que lá estava era o nosso guardião, e onde inventávamos os nossos clubes e os nossos circos, que entretiam por vezes os nossos pais que com bastante paciência lá íam participar das nossas aventuras, e que até compravam as pipocas e um copinho de sumo na nossa banca (que levávamos de casa)... para "ajudar a causa", hehehe.
Dias em que onde hoje passa um carro por minuto, antes passava um carro por dia, que hoje é de asfalto e antes era de terra batida com ervas na berma, onde hoje existe um estacionamento, e antes existiam duas pedras a fazer de baliza, com alguém no meio a fazer de guarda-redes que aguardava o remate de quem vinha a correr por entre os outros que andavam nas bicicletas que tinham recebido no Natal anterior.
E tantos outros dias...
São dias como esse, que nos fazem sonhar acordados, de algo passado que nada teve de irreal, cujo papel principal é abrir a janela do quarto nos presentes dias em que o Sol, por vezes teima em não entrar.
É tão bom recordar.
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